domingo, 13 de fevereiro de 2011

Escutas da PF mostram "caça" a bens de traficantes

Na ocupação do Alemão, policiais do Rio levaram até tênis de bandidos

Gravações foram feitas durante a Operação Guilhotina, deflagrada na sexta-feira contra corrupção nas polícias

HUDSON CORRÊA
DIANA BRITO
DO RIO

Policiais militares e civis não se empenharam apenas em desviar armas, drogas e dinheiro durante a ocupação no fim de novembro do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio. Nem pares de tênis escapavam da caça aos bens de traficantes que fugiram da favela com chegada da polícia.
É o que mostram escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal na Operação Guilhotina, deflagrada na sexta-feira contra esquema de corrupção nas polícias do Rio. Foram expedidos 45 mandados de prisão. Até o fechamento desta edição, 37 pessoas (20 PMs e 9 policiais civis, além de informantes) tinham sido presas. A investigação da PF começou em setembro de 2009. Descobriu quatro organizações criminosas de policiais que vendiam armas a traficantes, avisavam sobre operações da polícia, atuavam em milícias (grupos que controlam venda de gás e TV a cabo) e até faziam segurança a casas de jogos.
Durante as investigações, ocorreu a ocupação do Alemão e, como policiais e informantes suspeitos estavam com celulares grampeados, a PF soube que eles desviavam bens de traficantes e moradores.
"Antes da [rua] Joaquim de Queiroz [uma das principais do Alemão] tem um estacionamento. Entrei nele e subiu na laje e desci. Porra! Tem uma laje que tem dois, quatro, sete pares de tênis zero. Tudo escondido atrás das coisas", diz um policial militar a outro em telefonema gravado pela PF. Também havia interesse por aparelhos de TV.
"Se tu achar aquela televisão LED intocada, que tu falou, tu entra na minha casa, como se fosse dar uma geral.
Se quiser esquecer ela lá, eu te agradeço", diz um informante, identificado pela PF como Dilcimar Cunha Orofino.
"Tá, vai ser agora de manhã" responde o interlocutor que, conforme a investigação, é o policial militar da reserva Ricardo Afonso Fernandes, o Afonsinho, acusado de ser líder da milícia de Ramos, zona norte.
O filho de Afonsinho, Christiano Gaspar Fernandes, é inspetor da 22ª Delegacia da Penha, próxima ao Complexo do Alemão, que foi preso na operação.
Também policiais civis estão envolvidos. Um deles diz a uma informante que só não fez saque a uma casa na favela porque não era a vez de seu grupo. "Foi outra delegacia que entrou. Se fosse a nossa, a gente brincava. Entendeu?" A PF também obteve fotos de escavações feitas por policiais dentro de casas de traficantes em busca de ouro, que teria sido enterrado por criminosos antes de deixar o morro.
A Folha não localizou advogados dos acusados.


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1302201112.htm

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