terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Lula, o Filho do Brasil

por Aline Marins, redação ONNE

Confira a crítica, a palavra dos envolvidos e a entrevista com o diretor

OPINIÃO

1º de janeiro de 2010. Esta é a data de estreia do filme que desde seu anúncio causa polêmica: Lula, o Filho do Brasil. Apesar de pouca gente ter assistido às pré-estreias, sobram comentários e opiniões sobre ele.

O motivo? A política. Ano que vem acontece a eleição presidencial. Lula não será candidato, uma vez que está em seu segundo mandato. No entanto, ele tentará eleger Dilma Rousseff, atual ministra-chefe da Casa Civil, como sua sucessora.

Impossível esquecer todo este contexto ao entrar na sala de cinema. Da mesma forma, não há como abandonar as opiniões a respeito do governo em exercício. Tampouco, há como deixar de lado as quase 500 páginas percorridas do livro homônimo ao filme, de Denise Paraná (originalmente uma tese de doutorado em Ciências Sociais na USP).

As luzes se apagam. Começa o longa. O que se vê na tela é uma tentativa de condensar, em duas horas, mais de três décadas de história. Do nascimento de Luiz Inácio no sertão pernambucano, em 1945, à ascensão de Lula como líder sindical em São Bernardo do Campo, em 1980 – ano da morte de sua mãe, Lindu.

As histórias são tantas que acabam por tornar a trama um tanto quanto fragmentada. Falta um pouco de fluência, algumas fases da vida do presidente são pinceladas de anos em anos. Além disso, a relação entre todos os membros da família fica por vezes apagada. Com exceção de algumas cenas que demonstram os relacionamentos com o pai e com o irmão, Frei Chico, o foco é sempre a relação mãe e filho.

Mãe que, deve-se dizer, é lindamente interpretada por Glória Pires. Aliás, as atuações são louváveis. Milhem Cortaz, Aristides, que faz o papel do pai de Lula, aparece pouco, mas com muita força. E Rui Ricardo Diaz, em seu primeiro longa, consegue dar vida a um Lula não caricato, verdadeiro, crível.

Se o longa terá realmente alguma influência nas eleições, precisamos aguardar para ver. Até porque não há 100% de certeza em relação à transferência de votos de Lula para Dilma. Fato é que, independentemente de tudo isso, o filme tem o mérito de narrar uma trajetória de vida admirável.

O ELENCO, DIRETOR E PRODUTORES ESTIVERAM EM SÃO PAULO

Após uma exibição do filme Lula, o filho do Brasil para a imprensa, seus participantes concederam uma entrevista coletiva para os jornalistas. A produção estreia nacionalmente no dia primeiro de janeiro do ano que vem. Assista ao trailer.

Fábio Barreto, diretor do filme, afirmou que este é o seu trabalho mais maduro e acrescentou que o considera um de seus três melhores. Os outros dois são Índia, a Filha do Sol (seu primeiro longa, de 1982) e O Quatrilho (de 1995, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro).

Fábio destacou a atuação do elenco e contou que desde o início quis que a atriz Glória Pires representasse o papel de Dona Lindu, mãe do Lula. “Liguei para ela e disse: Você tem que interpretar a personagem, se não eu não faço o filme”, contou.
Glória aceitou o papel após a leitura do roteiro. “Fiquei encantada com a história”, disse. Perguntada sobre o que mudou após o trabalho, ela afirmou que passou a conhecer mais uma parte da história do Lula, seus momentos de líder sindical no ABC paulista.


Rui encena o discurso de Lula no Estádio de Vila Euclides (Foto: Divulgação)

Já Rui Ricardo Diaz, ator que faz o Lula, teve que encarar diversos testes para ser escalado. Primeiro, tentou viver um sindicalista e não foi escolhido. Depois, foi testado para fazer um enfermeiro, mas o personagem foi excluído do filme. Por último, fez o teste para o protagonista da história e conquistou o posto.

Rui conta que encontrou o caminho para sua interpretação no olhar do presidente. “Ele tem um olhar muito forte, muito presente”, explica. O resultado final foi conseguido após dois meses de trabalho árduo. “Comecei a ver vídeos e documentários, li o livro da Denise Paraná (Lula, o Filho do Brasil) e conversei com pessoas. Assim, também adquiri uma coisa física e gestual”, descreve.

Polêmicas

Quem respondeu sobre o financiamento da produção, que abdicou das leis de incentivo fiscal e teve patrocínio de algumas empresas ligadas ao governo (por meio de empréstimos, contratos, etc), foi a produtora Paula Barreto.

Ela afirmou que decidiu não usar as leis de incentivo fiscal já que o filme conta a história de uma figura pública. Em relação ao valor arrecadado disse que 50% veio de empresas do setor, como a Downtown Filmes, a Europa Filmes e a Globo filmes. Quanto aos investidores, alegou que 80% já era parceiro da LC Barreto e 100% tem história de investimento cultural.

O lançamento do filme em ano eleitoral não deixou de ser lembrado. Mais uma vez questionado sobre o assunto, Fábio respondeu que não teve nenhuma intenção de que o filme tivesse caráter político. “Ele é um produto cinematográfico de entretenimento”, declara.

Paula justifica a escolha do mês de janeiro para a estreia dizendo que, comercialmente, é o melhor mês para o mercado cinematográfico. “Os últimos filmes lançados em janeiro foram filmes que estouraram”, alega.

A estreia

Serão distribuídas pelos menos 500 cópias do filme no Brasil. A intenção é alcançar lugares, como cidades nordestinas e do interior do país, que normalmente não teriam acesso ao filme.

No exterior, a distribuição está garantida na Argentina. Segundo o produtor Eduardo Costantini, o longa estreará, provavelmente, em março. “Lula é muito popular em nosso país. O filme será visto por umas 400 mil pessoas, que é um número importante”, diz. Outros países na América Latina estão cotados para recebê-lo.

A sessão com o Lula

Glória Pires contou que teve um encontro breve com o presidente após a sessão do último sábado, dia 28 de novembro, ocasião em que ele viu o filme pela primeira vez. Segundo a atriz, ele disse que estava muito feliz, muito emocionado e que o filme estava muito bem feito.

Já Rui Ricardo Diaz falou que não chegou a conversar com Lula, mas que ele estava visivelmente emocionado. "Ele disse para o Fábio (Barreto) que quer conversar com a gente, nos parabenizar", revelou.

ENTREVISTA COM FÁBIO BARRETO

Este filme não foi feito para mudar a opinião de ninguém. As pessoas não pagam ingresso para decidir em quem vão votar.

Onne: Você tem expectativa em relação ao lançamento do filme no exterior?
FB: Tenho bastante expectativa. Acho que esse filme vai bombar no mercado internacional. A ideia de sua realização surgiu, inclusive, em razão de questionamentos que meu pai (Luiz Carlos Barreto) ouvia no exterior. Antes do Lula ser eleito, perguntavam quem era o Pelé ou o Ronaldo. Depois, passaram a perguntar quem era o Lula. Meu pai, então, leu o livro da Denise Paraná e me perguntou se não daria um filme. Eu li e, na hora, disse que não só dava, como tinha que ser feito.

Onne: Por quê?
FB: Primeiro, porque a história é linda. Segundo, porque para o cinema é sensacional. Qual a função do cinema? Levar algo ao público. E o que está sendo representado no filme: a história dele, do público.

Onne: Mas você não acha que quem não gosta do Lula não irá assitir ao filme?
FB: É uma especulação. Quem não gosta dele não está livre de gostar do filme. Tem muita gente que não gosta dele e amou o filme.

Onne: No material de divulgação do filme, você diz que ele é a oportunidade de falar de um povo que é injustamente criticado por muita gente. Que críticas são essas?
FB: Que é um povo acomodado, que não se manifesta, que se deixa ser explorado. Estou completamente em desacordo com isso. Conheço o mundo inteiro e acho que aqui existe uma civilização esplêndida. Uma mistura de raças, de religiões, uma coisa que não tem em nenhum outro lugar do mundo. E que tem uma característica muito particular: a alegria e o desejo imensurável de ser feliz. Não interessa quem estar no governo. O que faz uma nação não é o governo.

Onne: E de que forma o filme pode contribuir com os brasileiros?
FB: Pode contribuir para os brasileiros terem orgulho si mesmos. O filme conta a história de um homem que sai do nada e muda o seu destino, de uma família que se supera. Problemas que brasileiro pode passar.

Onne: Você tem algum projeto novo?
FB: Tenho. É uma comédia, chamada Bodas de Seda, sobre um homem que começa a ver sua mulher dividida em quatro.


http://msn.onne.com.br/cultura/materia/11468/lula-o-filho-do-brasil

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