segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Dinamarca lidera no atendimento digital à saúde

18/01/2010

The New York Times

Sindya N. Bhanoo
Em Copenhague (Dinamarca)

Jens Danstrup, um arquiteto aposentado de 77 anos, costumava pedalar por toda a cidade. Mas anos fumando enfraqueceram seus pulmões e atualmente ele tem dificuldade de descer os degraus da entrada de sua casa e fazer sinal para um táxi para levá-lo a uma consulta médica.

Agora, entretanto, ele pode ir ao médico sem sair de casa, usando alguns instrumentos médicos simples e um computador notebook com webcam. Ele faz suas próprias leituras médicas semanais, que são enviadas para seu médico por meio de uma conexão Bluetooth e registradas automaticamente em um prontuário eletrônico.

"Vê como é fácil para mim, em vez de perder o dia no hospital?" disse Danstrup, sentado à sua mesa enquanto conversava com sua enfermeira no Hospital Universitário Frederiksberg, a um quilômetro e meio de distância.

Ele prendeu o leitor de pulsação em seu dedo. Ele registrou a leitura e a enviou ao médico. Danstrup também pode checar seu prontuário médico pessoal online. Suas receitas médicas não usam papel -seus médicos as digitam eletronicamente e qualquer farmácia no país pode acessá-las. A qualquer momento em que ele quiser entrar em contato com seu médico principal, ele envia um e-mail.

Tudo isso é possível porque Danstrup vive na Dinamarca, um país que começou a adotar registros de saúde eletrônicos e outras tecnologias de informação para a saúde há uma década. Hoje, virtualmente todos os médicos do atendimento primário de saúde e quase metade dos hospitais usam registros eletrônicos, e as autoridades estão tentando encorajar mais projetos de "telemedicina" como o iniciado em Frederiksberg pelo dr. Klaus Phanareth, um médico de lá.

Vários estudos, incluindo um que será publicado neste mês pelo Fundo Comunitário, concluem que o sistema de informação dinamarquês é o mais eficiente do mundo, economizando em média aos médicos 50 minutos por dia em trabalho administrativo. E um relatório de 2008 da Sociedade de Sistemas de Gestão e Informação de Atendimento de Saúde estimou que as receitas e prontuários eletrônicos economizam ao sistema de saúde dinamarquês até US$ 120 milhões por ano.

Agora, os autores de políticas nos Estados Unidos estão estudando o sistema dinamarquês para ver se os sucessos podem ser reproduzidos como parte da reforma da saúde, que está tramitando no Congresso. O dr. David Blumenthal, um professor de política de saúde da Escola de Medicina de Harvard que foi nomeado pelo presidente Obama como coordenador nacional de tecnologia da informação para a saúde, disse que os Estados Unidos estão "bem atrasados" em relação à Dinamarca e suas vizinhas escandinavas, a Suécia e a Noruega, no uso de registros de saúde eletrônicos.

O sucesso da Dinamarca tem muito a ver com seu pequeno tamanho, sua população homogênea e seus sistema de saúde regulamentado -em todas as formas, muito diferente dos Estados Unidos. Como em grande parte da Europa, a saúde na Dinamarca é financiada pelos impostos e a maioria dos serviços é gratuito.

"Foi uma progressão natural para nós", disse Otto Larsen, diretor da agência que regula o sistema. "Nós acreditamos em cuidar de nossa população e acreditamos que esta é melhor forma de proceder."

Ele e outros reconheceram que o sistema está longe de perfeito. Ele enfrente limitações orçamentária e o país ainda está aperfeiçoando padrões comuns para os registros eletrônicos de dados.

"Nós estamos tentando enxugá-lo", disse Larsen. "Existem sistemas demais no momento."

E ele está pressionando pelo uso de ainda mais tecnologia da informação e a encorajando mais iniciativas como o projeto de telemedicina do Hospital Fredriksberg.

No Hospital Thy-Mors, na região rural de Jutlândia do Norte, os médicos estão usando um programa da IBM que utiliza dados do prontuário eletrônico do paciente e os sobrepõem em uma imagem tridimensional do corpo humano, permitindo aos médicos ter uma visão geral rápida do histórico médico da pessoa. O médico pode realizar a rotação da imagem, dar zoom e clicar nos males para obter mais informações.

As ambulâncias têm acesso aos prontuários eletrônicos, para que os técnicos possam atualizá-los para os médicos enquanto os pacientes estão ao caminho do pronto-socorro.

Kurt Nielsen, o diretor do hospital, disse que apesar dos médicos não serem particularmente adeptos da tecnologia da informação, eles aos poucos a abraçaram. E ajuda o fato das equipes estarem envolvidas no desenvolvimento das inovações.

"Minha equipe no hospital está muito, muito satisfeita", ele disse. "Nós construímos esses sistemas de modo incremental e buscamos contribuições deles o tempo todo."

Ainda permanece uma pergunta em aberto que lições da Dinamarca, um país de 6 milhões de habitantes, podem ser transferidas para os Estados Unidos.

"A Dinamarca é provavelmente o país mais avançado do mundo que já vi", disse Denis J. Protti, um professor de tecnologia da informação para a saúde na Universidade de Vitória, na Colúmbia Britânica, e um autor do estudo do Fundo Comunitário. "É claro, ela é do mesmo tamanho que alguns dos Estados americanos."

Culturalmente, os dinamarqueses também são diferentes. Larsen, da agência de informação de saúde da Dinamarca, disse que seus conterrâneos têm pouca objeção ao registro nacional de pacientes -talvez porque tenham prioridades diferentes que as dos americanos quando se trata de privacidade médica.

"Enquanto você tem saúde, você teme por sua privacidade", ele disse. "É quando você está doente que você deseja que as pessoas saibam qual é seu problema."

Ainda assim, Protti e outros especialistas dizem que a experiência dinamarquesa mostra que o uso de prontuários médicos eletrônicos é eficiente, custo-eficaz e viável, com um pouco de trabalho.

O dr. John D. Halamka, outro consultor do governo Obama sobre prontuários médicos eletrônicos, disse que a Dinamarca oferece aos Estados Unidos um vislumbre do futuro, com algumas variações logísticas.

Halamka, o diretor chefe de informação da Escola de Medicina de Harvard, duvida que os Estados Unidos algum dia terão um registro nacional de pacientes, mas ele acha que registros médicos eletrônicos podem ter sucesso desde que os pacientes tenham controle sobre seus próprios registros.

O Beth Israel Deaconess Hospital em Boston, onde Halamka é médico do pronto-socorro, foi um dos primeiros hospitais do país a adotar prontuários médicos eletrônicos, há uma década. Ele permanece na minoria -cerca de 10% dos hospitais americanos e cerca de 17% dos médicos americanos usam prontuários eletrônicos, segundo estudos publicados no "The New England Journal of Medicine".

Dois dos usuários mais robustos do país de registros de saúde eletrônicos são o Departamento de Assuntos dos Veteranos e o sistema de saúde Kaiser Permanente. Na semana passada, os dois anunciaram em conjunto que, com a autorização dos pacientes, os registros de saúde eletrônicos agora podem ser compartilhados entre os sistemas.

No Beth Israel, os pacientes podem escolher a forma de armazenar seus prontuários de saúde eletrônicos usando vários tipos de programas -Google Health, Microsoft Healthvault ou o próprio programa do hospital- e eles controlam o acesso às informações. No sistema dos veteranos e na Kaiser Permanente, os pacientes têm acesso aos próprios dados de saúde.

Outro desafio é o tamanho dos Estados Unidos, com 50 governos estaduais e uma multiplicidade de leis de privacidade.

Halamka é vice-presidente de um painel consultor federal que estabeleceu padrões nacionais para registros de saúde eletrônicos, visando ajudar Estados, hospitais, médicos e pacientes usando vários tipos de programas a armazenarem seus dados e compartilhar as informações.

"Foram estabelecidos os padrões para os pacientes se comunicarem", ele disse. "Há esperança e estamos no caminho certo."

Na Dinamarca, enquanto isso, os defensores da tecnologia da informação estão ávidos em oferecer conselhos e entusiasmo.

Nielsen, do Hospital Thy-Mors, disse que a transição deve ser gradual.

"Ela ocorreu ao longo de alguns anos", ele disse. "É importante saber que não aconteceu instantaneamente."

De volta ao Hospital Universitário Frederiksberg de 150 anos, em Copenhague, um enfermeiro, Steffen Hogg Christensen, estava preparando kits de informação médica como o utilizado por Danstrup.

A tecnologia da informação para a saúde não é fácil, disse Christensen, Treinar colegas e pacientes idosos pode ser difícil e exigir bastante tempo.

"Mas não é incrível quão inovadores podemos ser?" ele disse com um sorriso largo. "E tudo dentro dessas paredes velhas."

Tradução: George El Khouri Andolfato


http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2010/01/18/ult574u9906.jhtm

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